Ao abrigo do Programa "Rendition" e com o conhecimento da Administração Bush, não é novidade para ninguém que a CIA tem por hábito efectuar detenções de suspeitos de terrorismo em várias partes do mundo, transportando-os depois para países onde a tortura em interrogatórios é prática assumida. Embora a memória seja muitas vezes curta, seria bom não esquecer que no ano que agora finda foi levado a cabo um inquérito pelo Parlamento Europeu sobre os vôos secretos da CIA em solo europeu, inquérito esse que nos permitiu ficar a saber que Khaled Al-Masri, Abu Omar e Abdurahman Khadr, três inocentes suspeitos de terrorismo raptados nos seus países de origem, levados para centros de detenção secretos da CIA, onde foram brutalmente torturados, poderão ter passado por Portugal. De acordo com uma carta do MNE dirigida a Ana Gomes de 5 de Dezembro, mas apenas recebida a 26 de Janeiro, e consultada pelo JN, o SEF dispõe dos registos relativos a vários voos das duas aeronaves em causa um Boeing 737 (N 313P N4476S), aparelho que efectuou oito passagens por Portugal (escalas de partida ou de chegada nos aeroportos do Porto e Santa Maria nos Açores) no qual viajou o cidadão alemão Al-Masri; nos casos de Omar e Khadr, tratou-se de um Gulfstream IV (N85VM N227SV), que efectuou seis passagens por Portugal (aeroportos de Santa Maria, Cascais e Lisboa) entre 7 de Novembro de 2003 e 16 de Maio de 2005, incluindo ligações "de" ou "para" Guantanamo (Cuba), Tuzla (Croácia), Misurata (Líbia) e Rabat (Marrocos). Apurar a verdade dos factos não foi contudo possível já que, à boa moda democrática, Lisboa se recusou a fornecer ao Parlamento Europeu a famosa lista de passageiros do SEF, o que valeu a Portugal a acusação no relatório final da Comissão Parlamentar de cooperação insuficiente. Ficamos sem perceber porque foi indeferido o pedido da lista de passageiros do SEF. Como certeiro diz o povo, quem não deve não teme. Mas pelos vistos, há quem deva e por isso tema. Provado ficou, no entanto, que a Europa da democracia e dos direitos humanos conta com quem, ao mais alto nível, dê cobertura ao buraco negro que são os Serviços Secretos Americanos, subscrevendo um programa em que deter pessoas secretamente e torturá-las com o objectivo de obter informações é hasteado como bandeira da democracia. Se isto não é regressar à idade média, então o que é? E depois falam do Mugabe.
De_Patrícia Ribeiro e Silva.
Neste castelo... os sapatos ficam à porta.
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